segunda-feira, dezembro 22, 2008

NOVO BLOG!

Caros leitores,

Desde o final de 2007 este blog foi substituído. Para conhecer meu blog atual siga para o endereço abaixo:

http://guilhermedecarvalho.blogspot.com/


abraços,

Guilherme

quarta-feira, abril 18, 2007

Vou lhes Dizer o que Há de Errado com o Teísmo Aberto

"Porque, tendo o conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças... e trocaram a glória do Deus incorruptível em semelhança de imagem de homem corruptível”.

Romanos 1.21,23


Sim vou lhes dizer.

Sem grandes pretensões teológicas, ou profundas explanações.

Certo, vou pintar uma caricatura. Ser caricaturado é geralmente uma experiência desagradável. Eu já fui caricaturado. Uma vez dois alunos desaforados fizeram-me uma ótima caricatura, com foco especial em meu abdômem, que me custou meia hora de aula.

Enfim, caricaturas têm sua utilidade, quando não estão meramente desviando a nossa atenção para o que é menos importante (como o meu abdômen, no meio de uma exposição sobre a história do Novo Testamento). Os amigos me desculpem, se a minha caricatura parecer demasiado caricatural. Ademais, nunca fui bom desenhista.

Faço apenas uma ressalva, quanto à minha caracterização dessa doutrina: é que, enfim, toda teologia atinge a sua forma popular e, a forma popular do teísmo aberto não será algo muito diferente da minha caricatura. Talvez porque a forma popular é, em si mesma, uma caricatura.


Para ler o restante do artigo em meu NOVO BLOG, clique aqui

terça-feira, abril 10, 2007

Introduzindo Alvin Plantinga

Caros leitores,

Recentemente saiu um artigo meu sobre a epistemologia de Alvin Plantinga, um filósofo cristão bastante influente, de orientação calvinista. Trata-se de um artigo introdutório, para uma primeira aproximação ao pensamento plantingiano mas, ao mesmo tempo, pode ajudar bastante aqueles que precisam articular melhor a sua visão sobre a relação entre a fé em Deus e a racionalidade.

O artigo é intitulado "A Basicalidade da Crença em Deus segundo Alvin Plantinga", e foi publicado na Horizonte: revista de estudos de teologia e ciências da religião, da PUC MINAS. Está disponível em PDF.

Eu gostaria de receber observações críticas daqueles que puderem ler o artigo!

Para quem quiser saber um pouco mais sobre Alvin Plantinga, clicar no link abaixo:

Alvin Plantinga

sexta-feira, abril 06, 2007

Família Carvalho em L'Abri: Relatório 01













FAMÍLIA CARVALHO

PROJETO PRO-L'ABRI BRASIL

RELATÓRIO 01 – MARÇO/ABRIL DE 2007

L’Abri Fellowship
The Manor House

Greatham, Liss
Hants, GU33 6HF

06 de Abril de 2007

Caros irmãos e amigos,

Este é o nosso primeiro "report" sobre as nossas experiências aqui em L'Abri, e sobre o andamento do projeto. Temos a intenção de enviar este relatório mensalmente, se o Senhor o permitir. E nos alegramos por ter vocês como parceiros de caminhada.

Sobre o Lugar

Estamos entrando em nossa terceira semana aqui no L'Abri da Inglaterra. A missão fica na região sul do país, em Hampshire, em uma vila próxima a Liss, chamada Greatham. O lugar não têm grande densidade populacional, é bonito e têm uma história importante.

O L'Abri funciona em uma antiga "Manor", o nome para a casa principal de um dote de terra - algo como a "Casa Grande" do Brasil colonial. Na região há muitas mansões de pessoas ricas e com grandes propriedades, que foram construídas (ou ampliadas) principalmente a partir do século XVII. Trata-se de uma enorme mansão, cujas bases tem cerca de 350 anos, com muitos quartos, apartamentos e algumas casas anexas.


Nós estamos na "School House" (à esquerda), uma casinha próxima, a uns 30 metros da Manor House, construída originalmente para ser uma escola, há cerca de 150 anos atrás. A casa foi limpa, pintada, e parcialmente mobiliada só para nos receber! Temos uma cozinha montada, e aquecedor, o que ajuda bastante a agüentar o frio.

E nos fundos da casa, está a antiga Igreja de Saint John the Baptist - uma igreja do século XIII, que está em ruínas. Tem até o túmulo de um autêntico cavaleiro cruzado, sagrado pelo próprio Rei da Inglaterra na Idade Média!

Há muitas coisas antigas e interessantes aqui. Na pequena cidade de Petersfield, há uma igreja Anglicana que tem funcionado há mais de 800 anos. Parece um grande castelo medieval, mas é uma igreja cristã ativa.

Adaptação

A Alessandra e as meninas sofreram um pouco, no início, devido às dificuldades com a língua. Eu também tive alguma dificuldade mas, como sempre li muito em inglês, estou conseguindo me virar, graças a Deus! Na verdade, está um pouco melhor do que eu esperava.

Ademais, como o Andrew Fellows (o diretor da England L'abri) observou, o Senhor nos concedeu suas "suaves misericordias": Clark, um dos estudantes da casa, que é professor de inglês especializado em introduzir estrangeiros no idioma, se ofereceu para dar as lições básicas para a Alessandra. Compramos uma gramática e ela teve algumas aulas que foram muito importantes. Agora, ela já consegue entender alguma coisa. Graças a Deus!

E fizemos algumas amizades aqui. Louise, Stephan, Nathan, Clark e Julie (sua esposa), David, e outros. Mas tarde vamos postar fotos de todo esse pessoal. Este da foto é o David, um americano de Massachussets que ama a cultura irlandesa. As meninas amam ouví-lo tocar flauta.

Outra questão difícil é a comida. Eu sou capaz de comer quase qualquer coisa (exceto, como a Giselle vai concordar, o Marmite - isso é intragável!). Mas é difícil fazer as meninas comerem. Assim, algumas refeições tem de ser feitas na nossa cozinha, e fazer compras semanais tornou-se uma necessidade.

E isso nos leva a uma terceira dificuldade: o transporte. Estamos no interior – o que, no Brasil, chamamos de “roça”. Naturalmente, trata-se de um nível de vida bem mais alto. Todo mundo tem carro, e o transporte público é bem caro. Um exemplo: para ir de trem com a família à cidade grande mais próxima (Portsmouth) o custo total é cerca de 38 libras, o que dá uns 170 ou 180 reais. Mas para as compras semanais, temos uma carona para uma cidadezinha próxima (Petersfield).

A Rotina do L'Abri

Com certeza vamos precisar de mais tempo de adaptacão, mas o ritmo do L'abri já esta se tornando uma coisa familiar.

Todos os dias temos um café da manhã comunitário, na Manor House, às 8h00, finalizado com uma reflexão matinal, por um worker, e apresentação da agenda do dia.

Após a lavagem da louça, temos um pequeno culto na capela das 9h10 às 9h40. É um culto bem litúrgico, com leitura de salmos e orações escritas - o Andrew Fellows é ministro anglicano, e gosta desse estilo antigo, que remonta à idade média. Mas eu confesso que estou gostando muito da experiência.

Na segunda feira este culto é mais extenso, pois a segunda é o "dia internacional de oração" do L'Abri, quando todas as l'abris se unem em intercessão. A oração é levada a sério aqui. Isto tem sido uma característica da missão desde o início.

Segue-se um período de trabalho e/ou estudo, e então, às 13h00, temos o almoço. Neste momento os estudantes são divididos em dois ou três grupos, e cada grupo almoça na casa de um worker. Trata-se da famosa "luch discussion", ou "discussão do almoço": tipicamente, abre-se o espaço para perguntas, e um estudante pode levantar uma questão para debate. Fazer perguntas é uma coisa muito importante aqui no L'Abri. Normalmente a discussão se encerra às 14h30, e o worker que coordena a discussão pergunta por dois ou três voluntários para ajudarem a lavar a louça.

À tarde temos outro período de trabalho/estudo, que se encerra às 18h30, com o jantar na casa de um dos workers. Após o jantar o tempo é livre nas segundas, terças, quintas e sábados.

Nas quartas e sextas é diferente: temos as "Lectures", palestras sobre temas específicos de teologia, filosofia cristã e espiritualidade, por workers ou convidados. Até o momento, assisti a palestras muito ricas sobre epistemologia, doutrina da criação, sobre a função da memória na vida humana e sobre as críticas do biólogo ateu Richard Dawkins contra o cristianismo.

Finalmente, temos o "High Tea", um jantar especial no domingo à noite, com espaço para música, leitura de poesias, discussão, etc. Um tempo livre de convivência. A Alessandra já cantou em dois High Tea: cânticos da igreja e Milton Nascimento!

Todo estudante é orientado a ocupar metade do dia com trabalho e metade com estudos. Fica a critério do estudante o que ele fará de manhã e o que fará à tarde. Todos os dias, pouco antes do café, é afixada no mural uma lista dos trabalhos do dia, e os estudantes recebem suas tarefas: cortar grama, fazer o almoço, lavar banheiros, cuidar da lavanderia, etc. E há muito trabalho a fazer, pois a Manor House é uma mansão gigantesca!

Logo após a nossa chegada, procuramos a Louise (responsável pela worklist) para saber o que fazer na Manor House. Mas ela nos disse que esta rotina se aplica a estudantes solteiros. Em nosso caso, como viemos como uma família, o nosso trabalho seria o de cuidar da família e da "School House" - a casa em que estamos morando. Ela nos explicou ainda que isto é um valor central do L'Abri: a convivência familiar.

Como eu ia dizendo, o dia tem dois grandes períodos: o tempo de estudo e o tempo de trabalho. O tempo de
estudo é passado na biblioteca ou na "sala de estudos" (Study Room), onde há literalmente milhares de fitas cassete com gravações de palestras sobre os mais variados temas, reunidas desde a época que Francis Schaeffer começou o L'Abri, na década de 1950: teologia, estudos bíblicos, política, arte, música antiga e contemporânea, psicologia, espiritualidade, ciência, história, e mais um monte de coisas. Na sala há toca-fitas para todos mas, se alguém preferir, pode ouvir palestras em CD ou mp3 (mas a maior parte das palestras só está disponível em fitas).

Cada estudante pode também escolher um dos grupos de estudo que se reúne nas segundas, para estudar um tema especial. Finalmente, cada estudante têm um ou mais encontros semanais com o seu tutor, que o acompanha nos estudos e também em seu crescimento espiritual.

A Alessandra ocupa a maior parte de seu tempo de estudos com o Inglês. Meu tempo é dividido entre o Inglês e os estudos teológicos e filosóficos. Estou estudando Alister McGrath e Thomas Torrance. Além disso, Andrew Fellows, meu tutor, me recomendou a leitura de um clássico recente do teólogo inglês Colin Gunton: The One, The Three and the Many: God, Creation and the Culture of Modernity. Estamos estudando juntos as implicações da doutrina da trindade para a filosofia e para uma cosmovisão cristã.

Nos domingos, os estudantes vão, geralmente, a uma das três igrejas que nasceram do L'Abri: A Trinity Church, a International Presbiterian Church (IPC) e a Hope Church. Esta última é a mais próxima da Manor House, razão pela qual estamos frequentando-a. É uma igreja tradicional, muito calorosa e com uma ótima mensagem.

No último domingo foi a despedida da Joyce Adriani, obreira do CADI (uma outra org da nossa Rede de Cosmovisão e Transformação) junto com o Maurício Cunha e o Marcel, ficou aqui durante seis meses. Todo mundo aqui gostou muito dela. Na foto está Andrew Fellows, orando no momento da despedida da igreja.

A Equipe do L'Abri

Temos vários casais de "workers" (obreiros), aqui. O Jim e a Merran Paul (ele, médico, e ela psicoterapeuta), o Stephan e a Louise Lindholm (suecos; ele estuda teologia na Noruega), o Jeff Dryden com sua esposa (ele concluiu o doutorado em Cambridge e esta indo para a America, para ser professor de Teologia no Calvin College). E, claro, Andrew e Helen Fellows, o casal que lidera a missão. Temos tambem duas solteiras: a Martha, que é hungara, e doutora em sociologia, e a Edith Reitsema, sul-africana e doutora em filosofia. São pessoas experientes no mundo acadêmico, mas também muito experientes com o trabalho pastoral, capazes de conversar com qualquer um, do professor universitario ao adolescente que apenas comecou a pensar no que quer da vida.

Após os primeiros três dias, costumeiramente, Stephan indica um tutor para cada novo estudante no labri. Nós ficamos sob a responsabilidade dos Fellows: Andrew é o meu tutor e Helen esta ajudando a Alessandra. Mas ela esta desenvolvendo uma boa amizade com a Louise, esposa do Stephan.

O Andrew e sua esposa são pessoas realmente maravilhosas. É impressionante, para mim, a capacidade do Andrew de captar a condição interior de cada pessoa, e de entender o que está se passando com alguns dias de observacão. Fiquei surpreendido tambem com a sua percepção da situação da igreja no Brasil. Até parece que ele viveu ai por algum tempo! Me lembro de ter visto tal nível de discernimento espiritual apenas no Titus, nosso amigo da Indonésia.

Contatos e Planos

Por sinal, o Titus está na base da WEC, em Londres, e já entrou em contato conosco. Temos planos de nos encontrar em Londres na semana entre os dias 9 e 15 de Abril, mas isto ainda está em discussão e planejamento.

O Rodolfo passou um periodo maravilhoso no L'Abri da Holanda, e está vindo encontrar-se conosco no dia 10 de Abril. Eu creio que isto será otimo para a Lê e para as meninas. A Joyce (obreira do CADI, junto com o Mauricio) completou 6 meses aqui no L'Abri, e retorna para o Brasil no dia 09. Ela ajudou bastante a Alessandra com o inglês. Assim, o Rodolfo vai chegar bem na hora, para ajudar com a língua!

Motivos de Oração e Agradecimentos

Em primeiro lugar, queremos agradecer a Deus por seu cuidado. Até agora ele tem suprido todas as nossas necessidades. Precisávamos, por exemplo, de um computador para manter contato pela internet e ganhamos um no início da semana, de um simpático senhor chamado John Barrs.

Outra coisa maravilhosa, à qual nos referimos, foi a tremenda hospitalidade e compreensão da equipe do l'abri. Eles fizeram um grande esforço para preparar tudo para a nossa chegada. Houve até uma campanha entre as igrejas próximas (há três igrejas aqui que nasceram do l'abri: a Trinity Church, a International Presbiterian Church e a Hope Church), para mobiliar a casa.

Mas há desafios. A Ana Elisa está frequentando a mesma escola que a Hope, a filha do Andrew. É uma escola anglicana, gratuita. A Ana gosta da escola, mas às vezes tem problemas com coleguinhas, que não são compreensivos com a dificuldade de compreensão da língua. A Ana fica triste com isso, às vezes. Já a Heleninha sofre porque não há vagas disponíveis para ela, ao menos até setembro. Ela pede para ver a “estelinha” (sua colega de classe no Brasil) a todo momento. Precisamos de suas orações neste ponto.

Outra questão é a saúde. A Ana e a Helena estavam com problemas respiratórios nas duas semanas anteriores.
Ainda não sararam de todo, mas a experiência nos deixou um pouco alarmados. Visitas ao médico aqui são extremamente caras, de modo que o Andrew nos orientou a fazer um seguro-saúde. Vamos fazer uma pesquisa nos próximos dias para tomar uma decisão a respeito, mas já está claro que não podemos nos arriscar a passar um ano inteiro aqui, com crianças, sem nenhum tipo de seguro.

Um terceiro ponto de intercessão é a renovação do visto do Rodolfo em junho, e o nosso em setembro. Sabemos que isto é muito difícil, mas o Andrew entrou em contato com um advogado, membro da Trinity Church, que é seu amigo pessoal, para auxiliar no processo. O Andrew já manifestou explicitamente o seu interesse em nos manter aqui até o fim do ano, para aproveitarmos o máximo possível. Mas precisamos das orações dos irmãos quanto a isto.

Enfim, agradecemos a toda a nossa família no Brasil, a todos os irmãos que estão nos apoiando, à Missão Amém (WEC) Brasil (Pr. Rosifran) e, em especial, às igrejas que nos ajudaram de alguma forma: a Igreja Batista do Caiçara, nossa principal mantenedora (Pr. Elildo e Noemi), a Comunidade Cristã Betesda (Pr. Esmeralda e Jarbas) e a Igreja Cristã Injili (Pr. Suadi - os irmãos Indonésios) em Mogi das Cruzes.

Graças a Deus por suas Misericórdias!


Guilherme,
Alessandra,
Ana Elisa e
Helena Cavalho.



Contatos e Apoio:

Para receber mais informações e apoiar o projeto pro-L’Abri Brasil, escreva diretamente para nós, pelo email guilherme.alessandra@gmail.com, ou entre em contato com Vanessa Belmonte, nosso contato no Brasil, pelo email vabelmonte@yahoo.com.br.

Contribuições podem ser feitas diretamente a Vanessa Belmonte, ou através de depósito bancário na conta abaixo:

BANCO REAL
AG: 0036
CONTA: 8723498
TITULAR: Guilherme V. R. Carvalho

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

“Deixa ir os meus Músicos!”

Uma das maiores necessidades da igreja brasileira hoje é a de música cristã profana. Precisamos de música cristã que não fale de Deus. Não que falar de Deus não seja importante; mas às vezes tenho a impressão de que falamos demais de Deus, quase a ponto de tomar seu nome em vão. Falamos tanto porque estamos preocupados com a sua ausência; será que falamos para ocultar a sua ausência?

Falar de Deus é essencial: “como crerão, se não ouvirem?”. Tão importante quanto falar sobre Deus, no entanto, é falar a partir de Deus; e quando falamos a partir de Deus, não precisamos, necessariamente, usar o nome de Deus – o livro de Ester conta uma belíssima história sem usar o nome de Deus nem uma única vez, e essa história se tornou parte do cânon judaico-cristão, como narrativa divinamente inspirada.

A questão, pois, é se temos a graça de contar a história do modo correto, de narrar a vida sob a luz do evangelho. Precisamos de música que não fale de Deus, mas que fale a respeito da vida, das flores, do amor, da política, e das crianças, sob a luz do evangelho; precisamos de música que fale sobre o mundo, mas a partir de Deus.

Além disso, precisamos de música, simplesmente. Música que signifique Deus por sua beleza, e que mostre a sua glória sem palavras. A música pode ser narrativa, mas não precisa ser – a música não precisa de justificativas além da sua própria existência porque, afinal, Deus não precisa dar explicações sobre a razão de sua criação. Quem pode pôr em dúvida a beleza da música? Quem pode pôr em dúvida o amor do homem pela beleza da música? E quem pode pôr em dúvida a origem divina de toda boa dádiva, e de todo dom perfeito?

Quem és tu, ó pastor evangélico, para discutires com Deus? Pode a coisa feita desafiar seu Criador, perguntando-lhe: “Por que me fizeste assim?” Ou terás a ousadia de reprovar o inventor da beleza, por ter criado homens que amam a música pela música, mesmo quando não tem uma razão bíblica para desfrutá-la? Acusarás a Deus de ser o tentador do homem? Atribuirás a Satanás a arte de Mozart, de Wagner ou de Villa-Lobos? Consumados estes absurdos, que mais restará senão reprovar também a beleza das flores e o canto do sabiá? Por causa de Israel o nome de Deus foi blasfemado entre os gentios; mas por causa de ti a música cristã afunda nas trevas da feiúra estética.

Não me esqueço do dia em que um diácono da minha igreja – um homem grande, sério, que detestava livros mais do que qualquer coisa na vida – me chamou para uma conversa séria, “de homem pra homem”. Este diácono – não sei se no corpo ou fora do corpo, Deus o sabe – me aconselhou a desistir de ser músico profissional. “Porque” – dizia ele – “este meio artístico é muito sujo... Tem muita p., e um crente verdadeiro não se mete com p. Quando tem muita p. num lugar a gente tem que sair”. E, de fato, eu saí rapidamente de perto dele. Acho que em poucas ocasiões eu ouvi tantas vezes a palavra "p...".

Os músicos cristãos precisam de libertação – não da música “do mundo”, mas da música “da igreja”. Precisam ser libertados do jugo dos pastores e dos crentes legalistas, que exigem qualidade nas noites de domingo, mas que proíbem estes músicos de se profissionalizarem, e fecham o mundo da música a uma ação cristã redentiva.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Recesso

Caros leitores,

(Faço minhas as palavras da Norma)

Por motivos particulares, este Blog entra em recesso hoje até fevereiro de 2007.

Um grande abraço a todos, e até o ano que vem!

Guilherme Carvalho

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Mozart: Barth disse, e Dooyeweerd Concordou!

Bem, creio que todos os que me conhecem melhor sabem da minha paixão por Mozart - mesmo que eu não passe de um ouvinte diletante.

Tive acesso, no ano passado, a um dos raríssimos estudos sobre cultura de Karl Barth, na coletânea de Leibrecht em homenagem a Paul Tillich. Trata-se do famosíssimo - dentro de uma insignificante parcela da população mundial, naturalmente - "Wolfgang Amadeus Mozart", um artigo de Barth que ainda pretendo traduzir. Deveria ter sido neste ano - o "ano Mozart", mas meu cérebro não me permitiu tal façanha. No ano que vem, quem sabe...

Mas a referência ao artigo se deve a uma descoberta curiosa. No excelente site sobre Dooyeweerd de Glenn Friesen - um erudito bastante excêntrico que passou dois meses em L'Abri, visitou a Índia, foi aluno de Hendrik Hart quando este ainda era conservador, e finalmente, estudou com o próprio Dooyeweerd - encontrei uma historieta que só poderia correr mesmo fora dos livros. Segundo o Friesen, numa espécie de sarau musical, na casa da filha de Dooyeweerd, ele teve a oportunidade de ouvi-lo comentar Barth. Cito Friesen:

"Então Dooyeweerd falou-me a respeito de música. Ele me disse que Barth tinha dito que, quando os anjos no céu são requisitados a tocar diante de Deus, eles tocam Bach. Mas que, quando eles tocam por si mesmos [para se divertir, no original Barthiano], eles tocam Mozart [e mesmo Deus se diverte com eles, diz o original]. Para sempre em me lembrarei e apreciarei este lado humano de Dooyeweerd."

Como deve ter ficado claro nas minhas observações em itálico, Dooyeweerd citou o artigo de Barth. É compreensível, desde que Dooyeweerd não apenas lia Barth; também era músico, e tocava piano bem, segundo dizem. E eu concordo com ambos: Deus fez Mozart para se divertir, e a todos nós. O quê? Você não acredita?
Ora, quem tem ouvidos para ouvir, ouça...
Este artigo também está aqui.