Teologia Radicalmente Evangélica
Revirando meus papéis em busca de uma fatura desaparecida, encontrei o discurso de formatura que eu escrevi para meus alunos da FATE BH. Foi a minha última turma naquela faculdade; uma turma jóia. O discurso foi lido em 12 de Julho de 2005 pela minha esposa, e representa bem o que penso sobre o desafio de ser evangélico hoje, especialmente nos círculos pensantes.
Agradeço aos meus alunos pela escolha do meu nome como paraninfo da turma. Este prazer só não será completo devido à minha ausência necessária.
Estou certo de que essa escolha reflete o nosso relacionamento ao longo do curso. E como o nosso relacionamento sempre girou em torno de uma mensagem, que permeava nossas aulas e conversas de corredor, tenho certeza de que essa escolha reflete o impacto positivo dessa mensagem na turma.
E qual é essa mensagem? A mensagem a respeito da radicalidade do evangelho.
Os ouvintes podem se surpreender com essa declaração, por sua aparente banalidade. Afinal de contas, não é verdade que todos os cristãos afirmam a radicalidade do evangelho? Não é isso o pressuposto nos seminários evangélicos? Não é esse o tema dos púlpitos, dos livros e dos cânticos?
Infelizmente, não. A igreja evangélica vive uma grande crise de legitimidade e de fundamentação. Essa crise é bem conhecida entre aqueles cristãos mais informados. Na busca, em si legítima, por um impacto mais significativo na sociedade, os evangélicos tem se adaptado acriticamente a posições políticas, ideológicas e econômicas humanistas, e a níveis de moralidade inaceitáveis, do ponto de vista das Escrituras.
Um dos setores nos quais essa acomodação tem se apresentado de forma mais evidente é o da teologia evangélica. A reflexão sobre a fé e a práxis evangélica tem lutado desesperadamente por legitimidade e eficiência, no interesse sincero de contribuir para a missão da igreja.
Entretanto, por uma ingenuidade filosófica, muitos pensadores evangélicos vem renunciando à radicalidade do evangelho, submetendo-o a padrões de pensamento cuja raiz é patentemente pagã.
Permitam-me repetir o que eu disse em sala de aula inúmeras vezes: isso não é radicalmente evangélico.
Não é radicalmente evangélico tentar compreender o evangelho a partir da mente secular, pois "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, nem pode entendê-las, pois elas se discernem espiritualmente". Não é radicalmente evangélico acreditar que nossa compreensão do evangelho é totalmente condicionada e fundada pelo nosso contexto de origem; pois, "se alguém não nascer de Novo, não pode ver o Reino de Deus". O efeito historicamente comprovado desse tipo de hermenêutica tem sido a secularização do cristianismo, e o comprometimento da verdade cristã. Como Francis Schaeffer disse tantas vezes, ao dar-se autonomia à natureza, ela "devora a graça". Ao conferir a autonomia aos processos de pensamento utilizados na teologia, a "razão natural" devora a "fé".
O que seria, então, "radicalmente evangélico"? Nada menos que reverter completamente essa situação. Radicalmente evangélico seria compreender a mente secular a partir do evangelho; seria acreditar e aplicar o evangelho como chave hermenêutica radical para destravar a realidade, ao invés de tentar ler o evangelho a partir de uma suposta "realidade do leitor".
Para muitos cristãos sinceros essa posição é vista como "fundamentalismo". Não é o momento, aqui, para discutirmos a propriedade desse rótulo. Quero, no entanto, desafiar os meus alunos a não se incomodarem com isso. O mínimo que um teólogo cristão precisa fazer é se submeter a tais injustiças com coragem. Se existe uma forma de seguir a Cristo com a mente, ela certamente envolve levar o "opróbrio de Cristo" - a vergonha de confiar no Senhor de todo o coração e não se estribar no próprio entendimento.
A partir deste desafio, poderemos reconhecer as amplas implicações de um pensamento radicalmente evangélico. E a práxis da Missão Integral será, agora, entendida no sentido mais pleno possível: a missão de constituir uma cultura cristã, expressando o poder redentivo do evangelho em todas as esferas da vida: na política, na arte, na ciência, na caridade, na educação - enfim, na totalidade da vida humana. Como o expressou Abraham Kuyper, em sua célebre declaração:
"Não há um só centímetro, em toda a extensão da vida humana, sobre o qual Cristo, o Senhor de todos, não clame: isto me pertence."
É a minha oração que isso se cumpra na vida e no ministério de cada um de vocês. Que o evangelho seja crido e domine radicalmente todas as áreas de suas vidas, de tal modo que, um dia, as pessoas digam a seu respeito: não há um único centímetro na vida dessas pessoas que não pertence a Cristo!
Amem, e que Deus os abençoe.
Pr. Guilherme Carvalho
Agradeço aos meus alunos pela escolha do meu nome como paraninfo da turma. Este prazer só não será completo devido à minha ausência necessária.
Estou certo de que essa escolha reflete o nosso relacionamento ao longo do curso. E como o nosso relacionamento sempre girou em torno de uma mensagem, que permeava nossas aulas e conversas de corredor, tenho certeza de que essa escolha reflete o impacto positivo dessa mensagem na turma.
E qual é essa mensagem? A mensagem a respeito da radicalidade do evangelho.
Os ouvintes podem se surpreender com essa declaração, por sua aparente banalidade. Afinal de contas, não é verdade que todos os cristãos afirmam a radicalidade do evangelho? Não é isso o pressuposto nos seminários evangélicos? Não é esse o tema dos púlpitos, dos livros e dos cânticos?
Infelizmente, não. A igreja evangélica vive uma grande crise de legitimidade e de fundamentação. Essa crise é bem conhecida entre aqueles cristãos mais informados. Na busca, em si legítima, por um impacto mais significativo na sociedade, os evangélicos tem se adaptado acriticamente a posições políticas, ideológicas e econômicas humanistas, e a níveis de moralidade inaceitáveis, do ponto de vista das Escrituras.
Um dos setores nos quais essa acomodação tem se apresentado de forma mais evidente é o da teologia evangélica. A reflexão sobre a fé e a práxis evangélica tem lutado desesperadamente por legitimidade e eficiência, no interesse sincero de contribuir para a missão da igreja.
Entretanto, por uma ingenuidade filosófica, muitos pensadores evangélicos vem renunciando à radicalidade do evangelho, submetendo-o a padrões de pensamento cuja raiz é patentemente pagã.
Permitam-me repetir o que eu disse em sala de aula inúmeras vezes: isso não é radicalmente evangélico.
Não é radicalmente evangélico tentar compreender o evangelho a partir da mente secular, pois "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, nem pode entendê-las, pois elas se discernem espiritualmente". Não é radicalmente evangélico acreditar que nossa compreensão do evangelho é totalmente condicionada e fundada pelo nosso contexto de origem; pois, "se alguém não nascer de Novo, não pode ver o Reino de Deus". O efeito historicamente comprovado desse tipo de hermenêutica tem sido a secularização do cristianismo, e o comprometimento da verdade cristã. Como Francis Schaeffer disse tantas vezes, ao dar-se autonomia à natureza, ela "devora a graça". Ao conferir a autonomia aos processos de pensamento utilizados na teologia, a "razão natural" devora a "fé".
O que seria, então, "radicalmente evangélico"? Nada menos que reverter completamente essa situação. Radicalmente evangélico seria compreender a mente secular a partir do evangelho; seria acreditar e aplicar o evangelho como chave hermenêutica radical para destravar a realidade, ao invés de tentar ler o evangelho a partir de uma suposta "realidade do leitor".
Para muitos cristãos sinceros essa posição é vista como "fundamentalismo". Não é o momento, aqui, para discutirmos a propriedade desse rótulo. Quero, no entanto, desafiar os meus alunos a não se incomodarem com isso. O mínimo que um teólogo cristão precisa fazer é se submeter a tais injustiças com coragem. Se existe uma forma de seguir a Cristo com a mente, ela certamente envolve levar o "opróbrio de Cristo" - a vergonha de confiar no Senhor de todo o coração e não se estribar no próprio entendimento.
A partir deste desafio, poderemos reconhecer as amplas implicações de um pensamento radicalmente evangélico. E a práxis da Missão Integral será, agora, entendida no sentido mais pleno possível: a missão de constituir uma cultura cristã, expressando o poder redentivo do evangelho em todas as esferas da vida: na política, na arte, na ciência, na caridade, na educação - enfim, na totalidade da vida humana. Como o expressou Abraham Kuyper, em sua célebre declaração:
"Não há um só centímetro, em toda a extensão da vida humana, sobre o qual Cristo, o Senhor de todos, não clame: isto me pertence."
É a minha oração que isso se cumpra na vida e no ministério de cada um de vocês. Que o evangelho seja crido e domine radicalmente todas as áreas de suas vidas, de tal modo que, um dia, as pessoas digam a seu respeito: não há um único centímetro na vida dessas pessoas que não pertence a Cristo!
Amem, e que Deus os abençoe.
Pr. Guilherme Carvalho
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