“Deixa ir os meus Músicos!”
Uma das maiores necessidades da igreja brasileira hoje é a de música cristã profana. Precisamos de música cristã que não fale de Deus. Não que falar de Deus não seja importante; mas às vezes tenho a impressão de que falamos demais de Deus, quase a ponto de tomar seu nome em vão. Falamos tanto porque estamos preocupados com a sua ausência; será que falamos para ocultar a sua ausência?
Falar de Deus é essencial: “como crerão, se não ouvirem?”. Tão importante quanto falar sobre Deus, no entanto, é falar a partir de Deus; e quando falamos a partir de Deus, não precisamos, necessariamente, usar o nome de Deus – o livro de Ester conta uma belíssima história sem usar o nome de Deus nem uma única vez, e essa história se tornou parte do cânon judaico-cristão, como narrativa divinamente inspirada.
A questão, pois, é se temos a graça de contar a história do modo correto, de narrar a vida sob a luz do evangelho. Precisamos de música que não fale de Deus, mas que fale a respeito da vida, das flores, do amor, da política, e das crianças, sob a luz do evangelho; precisamos de música que fale sobre o mundo, mas a partir de Deus.
Além disso, precisamos de música, simplesmente. Música que signifique Deus por sua beleza, e que mostre a sua glória sem palavras. A música pode ser narrativa, mas não precisa ser – a música não precisa de justificativas além da sua própria existência porque, afinal, Deus não precisa dar explicações sobre a razão de sua criação. Quem pode pôr em dúvida a beleza da música? Quem pode pôr em dúvida o amor do homem pela beleza da música? E quem pode pôr em dúvida a origem divina de toda boa dádiva, e de todo dom perfeito?
Quem és tu, ó pastor evangélico, para discutires com Deus? Pode a coisa feita desafiar seu Criador, perguntando-lhe: “Por que me fizeste assim?” Ou terás a ousadia de reprovar o inventor da beleza, por ter criado homens que amam a música pela música, mesmo quando não tem uma razão bíblica para desfrutá-la? Acusarás a Deus de ser o tentador do homem? Atribuirás a Satanás a arte de Mozart, de Wagner ou de Villa-Lobos? Consumados estes absurdos, que mais restará senão reprovar também a beleza das flores e o canto do sabiá? Por causa de Israel o nome de Deus foi blasfemado entre os gentios; mas por causa de ti a música cristã afunda nas trevas da feiúra estética.
Não me esqueço do dia em que um diácono da minha igreja – um homem grande, sério, que detestava livros mais do que qualquer coisa na vida – me chamou para uma conversa séria, “de homem pra homem”. Este diácono – não sei se no corpo ou fora do corpo, Deus o sabe – me aconselhou a desistir de ser músico profissional. “Porque” – dizia ele – “este meio artístico é muito sujo... Tem muita p., e um crente verdadeiro não se mete com p. Quando tem muita p. num lugar a gente tem que sair”. E, de fato, eu saí rapidamente de perto dele. Acho que em poucas ocasiões eu ouvi tantas vezes a palavra "p...".
Os músicos cristãos precisam de libertação – não da música “do mundo”, mas da música “da igreja”. Precisam ser libertados do jugo dos pastores e dos crentes legalistas, que exigem qualidade nas noites de domingo, mas que proíbem estes músicos de se profissionalizarem, e fecham o mundo da música a uma ação cristã redentiva.
Falar de Deus é essencial: “como crerão, se não ouvirem?”. Tão importante quanto falar sobre Deus, no entanto, é falar a partir de Deus; e quando falamos a partir de Deus, não precisamos, necessariamente, usar o nome de Deus – o livro de Ester conta uma belíssima história sem usar o nome de Deus nem uma única vez, e essa história se tornou parte do cânon judaico-cristão, como narrativa divinamente inspirada.
A questão, pois, é se temos a graça de contar a história do modo correto, de narrar a vida sob a luz do evangelho. Precisamos de música que não fale de Deus, mas que fale a respeito da vida, das flores, do amor, da política, e das crianças, sob a luz do evangelho; precisamos de música que fale sobre o mundo, mas a partir de Deus.
Além disso, precisamos de música, simplesmente. Música que signifique Deus por sua beleza, e que mostre a sua glória sem palavras. A música pode ser narrativa, mas não precisa ser – a música não precisa de justificativas além da sua própria existência porque, afinal, Deus não precisa dar explicações sobre a razão de sua criação. Quem pode pôr em dúvida a beleza da música? Quem pode pôr em dúvida o amor do homem pela beleza da música? E quem pode pôr em dúvida a origem divina de toda boa dádiva, e de todo dom perfeito?
Quem és tu, ó pastor evangélico, para discutires com Deus? Pode a coisa feita desafiar seu Criador, perguntando-lhe: “Por que me fizeste assim?” Ou terás a ousadia de reprovar o inventor da beleza, por ter criado homens que amam a música pela música, mesmo quando não tem uma razão bíblica para desfrutá-la? Acusarás a Deus de ser o tentador do homem? Atribuirás a Satanás a arte de Mozart, de Wagner ou de Villa-Lobos? Consumados estes absurdos, que mais restará senão reprovar também a beleza das flores e o canto do sabiá? Por causa de Israel o nome de Deus foi blasfemado entre os gentios; mas por causa de ti a música cristã afunda nas trevas da feiúra estética.
Não me esqueço do dia em que um diácono da minha igreja – um homem grande, sério, que detestava livros mais do que qualquer coisa na vida – me chamou para uma conversa séria, “de homem pra homem”. Este diácono – não sei se no corpo ou fora do corpo, Deus o sabe – me aconselhou a desistir de ser músico profissional. “Porque” – dizia ele – “este meio artístico é muito sujo... Tem muita p., e um crente verdadeiro não se mete com p. Quando tem muita p. num lugar a gente tem que sair”. E, de fato, eu saí rapidamente de perto dele. Acho que em poucas ocasiões eu ouvi tantas vezes a palavra "p...".
Os músicos cristãos precisam de libertação – não da música “do mundo”, mas da música “da igreja”. Precisam ser libertados do jugo dos pastores e dos crentes legalistas, que exigem qualidade nas noites de domingo, mas que proíbem estes músicos de se profissionalizarem, e fecham o mundo da música a uma ação cristã redentiva.
15 Comments:
Excelente.
Disse o que eu pensava, mas não conseguia expressar.
Vou recomnedar o artigo num forum evangélico que freqüento.
Renato Ulisses de Souza
concordo plenamente... pena que haja tantos "cristãos" doentes mentais em nossa sociedade.
Abraço pra vc Guilherme!
Jean Belmonte.
disse tudo meu véio, sonho com o dia em que a musica cristã terá qualidade e ousadia para ser brasileira, "profana" e boa pra C. só pq pode ser boa
keep the faith
[]'s Mutz
Caro Guilherme,
Recebi o seu texto 'Deixa ir os meus Músicos!' e achei o assunto pertinente dentro daquilo em que eu me proponho a militar... tomei a liberdade de publicar este texto em meu Blog com o devido reconhecimento. Espero que me perdoe por ter publicado antes mesmo da resposta. Anteciosamente, Fernando Henrique Liduário Maximiano. www.fernandolidmax.blogspot.com
Pr. Gui,
Muitas vezes achamos que estamos louvando a DEUS só porque falamos o nome Dele nas músicas...e o invocamos... e choramos... e... e..., mas esquecemos que é na harmonia das notas que ELE está presente, pois foi ELE mesmo quem a criou. Se cantamos ou tocamos para ELE é o que interessa.
Chic D+! Amei o comentário!!!
Este artigo me lembrou de uma frase acho de de Kall Barth.
"A igreja precisa ser mais mundana".
Gui, como sempre, suas palavras são diretas, pertinentes e brasileiras. Amei o texto cara assim como estou devorando o Livro (maravilhoso, já dei pro meu pastor!)
Que a música seja liberta, nem que se precisar para isto agente imponha a mão e expuse todo espírio de "espiritualização"
braçao
Ramon Goulart
Prezado Guilherme,
Escrevo para felicitá-lo pelo blog e para me apresentar: sou Marcus Vinicius Matos, 25 anos, estudante de Direito da UFRJ. Sou batista reformado, e congrego na Primeira Igreja Batista Bíblica do Rio de Janeiro.
Seu blog é um achado pra mim: alguém reformado; acadêmico; e com uma visão política crítica.
Não tenho um blog próprio, mas recomendo o blog da Rede FALE: trata-se de um projeto de Defesa de Direitos do ministério de diaconia da ABUB - www.fale.org.br
Participo do FALE há alguns anos, e hoje atuo na coordenação de campanha da rede. Nós promovemos campanhas de "Ação & Oração" dentro de temas que consideramos relevantes para a sociedade.
Em paralelo a esse trabalho, me dedico a pesquisa. Atualmente leio (e escrevo) sobre Teoria do Estado e Globalização, utilizando autores como Norberto Bobbio, Ulrich Beck e Anthony GIddens.
Tenho discussões árduas no meio reformado sobre questões políticas. Parte delas com o Gustavo Nagel (amigo, de minha igreja), e com o Pr. Franklin Ferreira, a quem admiro e considero muito, desde a adolescência, quando fui muito abençoado por ele.
Faço esse primeiro contato, então, apenas para me apresentar; e ficar na esperança de que possamos manter contato um dia.
Um grande abraço.
Fique com Deus.
Marcus Vinicius Matos (MV).
OBS: Meu e-mail para contato é mv@ufrj.br
Olá Guilherme!
Fiquei muito, mas muito feliz em ler o seu texto. É bom, é revigorante, é animador achar alguém que escreva coisas assim, que esteja ouvindo e entendendo.
Mano, gostaria de conversar mais com você sobre isso. Se puder me adicionar no MSN (lucasdelirante@hotmail.com), eu agradeceria. Também tenho um BLOG, depois dá uma olhada. Abraços!
Olá Guilherme
Parabens pelo seu texto. Achei muito lúcio, muito claro, muito no âmago da questão. Pra mim é um alívio, é um refreco, uma brisa suave ler um texto como esse que saia de dentro da Igreja. Gostaria de conversar mais com você a respeito desses assuntos. Vc tem MSN? Se quiser, me adicione, lucasdelirante@hotamail.com. Se puder também, faça uma visita ao meu blog... www.lucassouza.wordpress.com e/ou ao meu site www.lucassouza.com.br
Gostaria de saber também mais sobre o Pro-L'Abri.
Um abração!
Li... e que saudade me deu das aulas na Fate...
Guilherme - alem de seu aluno na FATE, eu me lembro de que na adolescencia toquei com seus irmãos na Missão AMEM e com Paulinho MPC - Se for mesmo me retorne
De qualquer forma um abraço!!
Muito bem colocado Parabens e Viva a Coltrane, Tom Jobim ....
Carambaaa...disse tudo! Parabéns pelo texto. Abraço!
Velho isto é muito bom! Coloquei aqui no meu blog também! Tá linkado pra cá! Escreva mais pérolas como esta cara!
Olá guilerme!!!Parabéns pelo texto...Será que existe uma possibilidade de virar palestra???Um abraço fredão!!!
Guilherme,
A minha "interpretação" é que a música e a sua relação como o músico cristão, constituem obra do espírito que sopra sobre nós (há 2008 anos) e escolhe alguns entre muitos. Mas o homem sempre avança com seus atributos de vontade e desejo e não resiste a idéia de ser músico e ainda cristão. Aí o que não é inspirado fica rotulado aos clichês e quase dogmas musicais. Um dia, não sei como, fui parar em uma igreja e sem pedir para tocar estou até hoje. Nunca estudei e nem irei porque o que faço não me foi ensinado pelo homem. Respeito a todos os músicos, seus talentos e qualidades, mas esta é minha visão da missão cristã e a relação com a linguagem da música.
Paz e bem..
Paulo
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