quinta-feira, novembro 23, 2006

I Seminário "Cristianismo e Ciência em Diálogo"

A AKET promove, no dia 02 de Dezembro (sábado), das 8hs às 11h45 da manhã, o seu I Seminário "Cristianismo e Ciência em Diálogo". O seminário pretende oferecer uma introdução ao debate contemporãneo sobre as relações entre a fé cristã e as ciências, numa perspectiva evangélica.

Os palestrantes serão Giselle N. Fontes (Pós-Doutoranda em Física, UFMG), Guilherme de Carvalho (Mestre em Teologia e Mestrando em Ciências da Religião, UMESP) e Rodolfo Amorim Carlos (Mestrando em Ciências Sociais, UFMG). Todos são membros da diretoria da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares.
Serão apresentadas cinco palestras, seguidas de perguntas e discussão:
1) O diálogo de religião e ciência hoje;
2) A reforma e o desenvolvimento da ciência moderna;
3) Abraham Kuyper e a idéia de uma reforma interna da ciência;
4) A relevância do teísmo cristão para a ciência;
5) Religião e ciência em perspectiva evangélica: as contribuições de Francis Schaeffer e Alister McGrath
O evento será realizado no templo da Comunidade Cristã Zona Sul, à Av do Contorno, 7492, Lourdes.
Inscrição gratuita no local.
Maiores informações pelo telefone: 31 34114017 ou pelo email:

quinta-feira, novembro 16, 2006

Contra a Graça Evasiva e Barata

Caros amigos,

Apesar de estar ocupadíssimo com a minha dissertação, decidi escrever alguma coisa sobre a nossa recente "conversa de surdos", como a denominou o Xoyo, com um grupo de estudantes de Curitiba. "Decadentes" é o nome do Blog que veicula suas idéias. Como eles fizeram algumas comentários em meu Blog, recentemente (a discussão pode ser lida aqui), e apresentaram uma "declaração" de suas posições em seu Blog (aqui), decidi escrever alguma coisa sobre o assunto.

Sobre a "Confissão de Fé" e a "Crítica"

Em termos simples, os decadentes confessam a fé na Graça como absolutamente suficiente. A graça entendida como o único fato certo e, por isso, a fé na graça divina como a única certeza possível. A cruz elimina todas as certezas, porque é um juízo definitivo sobre tudo o que possamos fazer diante de Deus para a nossa salvação. Mais do que isso, somos duplamente devedores a Deus, por causa de Cristo; afinal, o seu sacrifício não somente garante a salvação, mas foi o que "tornou o mundo possível" - assim, a graça seria o próprio "fundamento do mundo". As Escrituras são a revelação dessa graça e, por isso, compartilham da certeza da graça.

Entre as certezas eliminadas pela graça, se incluem a certeza da salvação, bem como toda e qualquer "certeza religiosa". Tanto faz, por exemplo, se nos sentimos mal ou bem, se sentimos paz com Deus ou nos sentimos condenados; afinal, não temos como distinguir o sentimento de paz com Deus do sentimento de "merecer" a salvação.

A fé contradiz toda certeza lógica (desde que esta se baseia nas relações de causalidade), posto que, em sua Graça, Deus simplesmente ignora a lei da retribuição e concede o imerecido. Daí se dizer que "Amar como Jesus amou é imoral [...] é imoral amá-las 'sendo elas pecadoras'. Toda moral é retributiva. A Graça é imoral porque ela não é retributiva".

Por essa razão, a Graça elimina a possibilidade de um discernimento quando aos "bodes" e "cordeiros". Não podemos julgar e, portanto, saber quem é quem: "[...] é esta a diferença entre Israel e Babilônia que não podemos de maneira alguma discernir". Portanto, não "não podemos discernir os bons dos maus, ou 'os mais merecedores da graça' e 'os menos merecedores da graça'". Afirma-se mesmo que não podemos julgar cognitivamente sobre estas coisas (sobre quem é salvo ou não).

Quanto ao pecado, os decadentes identificam o pecado original com o "conhecimento do bem e do mal", reportando-se a Gênesis. "[...] julgar e legislar sobre estas coisas é querer saber a diferença entre o bem e o mal, é querer ser como Deus; é o pecado original!" Afirma-se ainda que a única coisa que torna a Graça necessária é o pecado - o do julgamento, principalmente, poderíamos concluir. Enfim, "Graça é o esquecimento da diferença entre o bem e o mal, é o esquecimento do pecado original!"

Sobre a relação entre fé e racionalidade, os decadentes afirmam que tudo o que sabemos é racional. Isso significa que, o que cai no campo da fé seria o não-racional, no sentido de algo que contradiz a lógica da causalidade. Assim, para haver uma "certeza da fé", será preciso "[...] se certificar dessa certeza antes de aderir à fé"; pois a certeza é algo que pertence ao âmbito da razão.

Não haveria possiblidade de uma "crítica cristã da racionalidade", desde que a "crítica" é uma atividade intrinsecamente racional - a noção Kantiana de crítica da razão pela própria razão, em busca de suas condições de possibilidade. Falar em uma crítica que parte de "solo não racional" é contraditório, portanto. Se houver coerência de fé e razão, no entanto, não importa de onde começamos, chegaremos ao mesmo lugar.

Não podemos, portanto, afirmar que a crítica precisa começar com a fé ou com a razão "[...] Dizer que é necessário começar com uma ou com outra, portanto, é dizer que 'lá na frente' vai haver um desacordo e que desde já estamos tomando o partido de um dos lados neste caso. 'Começar com a fé' portanto, é pressupor a discordância." Se há concordância, enfim, não há porque privilegiar uma via em relação à outra.

Os decadentes defendem a autonomia da razão a partir do reconhecimento da ausência de fundamento além de si. A razão precisa ser autônoma, então, pois precisará dar a si mesma uma lei. Mas este imperativo de autonomia revela o nada que envolve o homem e "empurra-o" à graça.

Graça Baratíssima, Tolice Cósmica

Em primeiro lugar, penso que algo precisa ser dito quanto a esta noção de Graça: Graça como negação da lei, como contradição da lei; contradição da ordem, afinal. Pois Deus, e Jesus, atuam de forma imoral, ignorando a lei da retribuição, e amando os que não deveriam ser amados. A graça se encontra, assim, fora de qualquer estrutura de previsibilidade, não tendo nenhum ponto de contato com o saber racional.

De algum modo, os Decadentes estabelecem uma confluência entre exigência moral/legal, com o conceito de "merecimento", e a noção de certeza racional, como um único campo de "obras humanas". Assim, a "lógica" exige o juízo (a retribuição pela desobediência à lei) e a graça é vista como o "imoral" e, assim, o "ilógico". Na verdade, essa confluência é correta. Envolve a percepção de que tanto a "racionalidade" como a "moralidade" pertencem a uma ordem humana de existencia; uma ordem criatural.

Temos, no entanto, uma ruptura radical entre lei e Graça, de tal modo que a Graça é vista como oposição e contradição à lei, e não como cumprindo a lei. A Graça não transcende a lei, meramente; a Graça se lhe opõe; portanto, nada do que fizermos pode garantir a Graça, e nada pode nos separar dela - na verdade, o que fazemos não tem nenhuma relação com ela. Afinal, a graça não tem nenhuma relação com a ordem natural ou racional.

Poucas vezes, nos últimos tempos, encontrei o antinomismo religioso em uma forma mais acabada e unilateral. A Escritura não ensina, de modo algum, que a Graça signifique que não importa o que façamos, estamos salvos. Pelo contrário, o que temos é uma coerência absoluta de Lei e graça. Os que estão sob a Graça são constamente advertidos de que a Graça produz a obediência à lei. Desde o pentateuco, onde aprendemos que a lei foi dada após a Graça (o Êxodo), e que foi dada, como diz o Senhor "para o teu bem". E no profetismo, que ensinou o arrependimento e a aceitação da lei como caminho para a salvação - ensinando, inclusive, que um dia a lei seria escrita "nos corações" do povo. Ser salvo é ter a lei no coração, não "esquecer o pecado original"!

Jesus ensinou a obediência à lei; afinal, ele explicou o que a lei realmente significa, no sermão da montanha, em seu sentido moral profundo, que é o amor. E Jesus cumpriu a lei exatamente ao se sacrificar por amor a Deus e aos homens. E o sacrifício de Cristo na cruz é precisamente a confirmação da lei. A Graça da justificação se apóia neste sacrifício; nele Deus foi "justo e justificador". "Anulamos pois, a lei?", pergunta Paulo; "não, antes confirmamos a lei".

A Graça não contradiz a lei; a Graça transcende a lei sem anulá-la. É claro que a lei foi transcendida - nisso, eu concordo de todo o coração com os Decadentes. A Graça vai além da lei da retribuição, e não pode ser inferida logicamente; não pertence à ordem do "Ser"; não é algo necessário. Ainda assim, ela não contradiz, de modo algum, a lei. Afinal, Deus não é só Gracioso, senão também Justo. Deus, o justificador, não o é às expensas de Deus, o justo. Assim, em Cristo, a lei da retribuição foi, efetivamente, satisfeita. Em Cristo, a causalidade jurídica foi satisfeita, assim como todas as outras. Em Cristo, a moral foi cumprida vicariamente, não apenas porque ele cumpriu a lei por nós, mas também porque o próprio sacrifício foi o cumprimento da lei do amor, em seu aspecto jurídico e também como ato de Graça.

Por isso, no Novo Testamento, a vida sob a Graça é o cumprimento da lei. Paulo e os apóstolos ensinam inequivocamente a necessidade de obediência aos mandamentos de Deus. E ensinam muitos outros mandamentos - as cartas são cheias de leis! Eles ensinam a santificação, que é a separação moral; ensinam e exclusão de hereges e cristãos com comportamentos incompatíveis; exigem as obras - "A fé sem obras é morta"!

A Graça é o cumprimento da Lei, não a sua contradição! O paradoxo da Graça não é um paradoxo metafísico, uma contradição estrutural entre o amor de Deus e a Justiça, uma negação da ordem pelo criador da ordem, mas um paradoxo histórico, como aponta Paul Tillich; o "novo", o "inesperado", não o "irracional". A novidade da Graça transcende e enriquece a Lei, mas jamais a anula.

De modo que a "Graça" dos Decadentes não passa, realmente, de uma "Graça barata". Uma Graça sem Lei e sem razão; uma irracionalidade tonta e arbitrária de Deus. Uma grande tolice cósmica, que garante a nossa salvação, mesmo que sejamos uns blasfemos miseráveis. A Graça dos decadentes é a Graça da libertinagem e da insubordinação à Lei, acusada na segunda carta de Pedro e em Judas. É a Graça que não teme "autoridades superiores", e que se posta sob a água, como rocha submersa no caminho dos barquinhos. Uma Graça que não gosta de mandamentos não é a Graça de Cristo; e "melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça".

Da Tolice Cósmica à Evasão Cosmológica

Não surpreende que o barateamento da Graça, apresentado pelos Decadentes, esteja associado a um terrível temor contra qualquer projeto cristão de história. A Graça não tem pontos de contato com a Ordo Creationis, porque é a contradição da Lei, e não o seu cumprimento. Assim, não há qualquer esperança de estabelecer uma conexão com qualquer ordenamento humano, seja racional, seja político, seja o que for- a Graça nos põe em guerra com a lei da causalidade, ao menos no âmbito da fé.

Isso implica, afinal, em manter o relacionamento com Deus devidamente engaiolado na subjetividade, e rejeitar a ação cristã no mundo, exceto em termos de um combate a qualquer tentativa de fazê-lo! Lutar contra Babel, pensam os Decadentes, é lutar contra qualquer cidade. Assim não haverá Babel - mas também não haverá Jerusalém (exceto por um milagre que não acontecerá); e, de todo modo, os Decadentes lutarão contra ela, caso apareça. Afinal de contas, eles mesmos disseram que não tem como diferenciar uma coisa da outra. Os Decadentes gostariam de voltar ao Éden, quando não haviam cidades, e nós não conhecíamos o bem e o mal...

Numa palavra: EVASÃO. Um Cristianismo que, ao modo Kantiano, pretende "salvar" a fé e manter a "pureza" da Graça rompendo as suas amarras com a Lei e as estruturas universais da vida humana é um cristianismo avertivo, evasivo, perfeitamente ideal e perfeitamente inútil a Deus. Assim, os Decadentes dizem saber o que o Cristianismo "é", talvez, "essencialmente" ou, talvez, "interiormente", mas não tem a menor idéia de como identificá-lo empiricamente ou históricamente. Isto é impossível; o Cristianismo está dado na história, ou não é nada.

A Graça é o cumprimento da Lei e, por isso mesmo, ela nos reconduz à Lei. Ela redime a Criação. Portanto, perdoa o homem e o recoloca em sua relação original, de submissão à lei de Deus. Com ao Graça, somos integralmente salvos - em nossa racionalidade, sociabilidade, moralidade, sensibilidade estética, etc. Isto é ser salvo; ser salvo para as estruturas criacionais, não dessas estruturas. Uma salvação que não diz nada para essas estruturas reais é uma salvação oca. Uma Graça oca.

Por isso mesmo, a Graça não elimina as nossas certezas - que maldição antinômica e pós-modernóide é esta! A Graça não me fará, por exemplo, ter dúvidas se minha esposa tem uma mente racional ou não (o conhecido problema filosófico das "outras mentes", para dar um exemplo). Ela me fará, pelo contrário, compreender o porquê e o como de algo que a razão em incredulidade não é capaz de justificar, me obrigando, no caso (se sou um solipsista, ou, talvez, adoentado de idealismo alemão) e me encontrar com o real, a reconhecer que sei mesmo não sendo capaz de demonstrar meu saber.

A Graça não acaba com todas as certezas, mas destrói as falsas certezas e realça as verdadeiras certezas. A Graça é a certeza da salvação; é a certeza de que há um mundo e um eu, e que há uma ordem cósmica; que há uma Lei, e um futuro; que há um saber e um não saber; que há um certo e um errado; que certeza lógica é possível - dentro dos limites criacionais. A Graça não contradiz todas as certezas de tipo lógico, mas restaura todas as certezas verdadeiras, pois nos coloca em contato com a realidade.

O Evangelho não é essa mensagem transmundana, mística e decadente, mas o anúncio do que Deus fez na história; o Cristo bíblico não é um construto teológico, mas um fato espaço-temporal. O Evangelho dos Decadentes é como o Cristo Crucificado de Dali - um Cristo "essencial", que nos inspira, mas que paira acima do chão da história e das decisões humanas. Um Cristo virtual, que não é capaz de nos ensinar o que fazer.

A Graça verdadeira nos devolve à Lei e à responsabilidade histórica. Ela nos redime para a ação. A ação corajosa no mundo. Com todos os riscos e ambiguidades que isso implica. Por isso os caipers querem ação, e não tem medo de dizer que Deus reina sobre todas as esferas da vida, e que podemos conhecer as suas leis, e que devemos nos esforçar para obedecê-las. Isso não é fundamentalismo, como um decadente disse, mas cristianismo, simplesmente. Já os Decadentes querem um cristianismo que não corra o risco de falhar, e de receber a pecha de "fundamentalista". Que coisa inglória. É como evitar transar, para não brochar.

Fé e Racionalidade

Pelos posts ficou absolutamente claro que os Decadentes nada sabem sobre a "crítica cristã da razão". Embora este assunto me interesse bastante, penso que não seria muito útil entrar em detalhes sobre ela aqui. Em parte, porque cairia em ouvidos moucos. Assim sendo, vou me limitar a alguns esclarecimentos para que o leitor não fique no escuro.

Os Decadentes ensinam claramente a autonomia da razão. Num certo sentido, estão corretos, embora pela razão errada. É legítimo pensar a partir das estruturas internas da razão, isto é, permitir que ela seja a sua lei, se esta lei reflete nada menos que a Lei cósmica que Deus estabeleceu. Pensar logicamente, e considerar causas e efeitos, é simplesmente a vontade perfeita de Deus para o homem. Além disso, não há porque rejeitar o tipo de raciocínio transcendental que Kant desenvolveu para obter um conhecimento crítico das condições do saber, uma vez que isso é apenas uma forma de aplicação sistemática da capacidade racional que Deus pôs em nós.

As Escrituras ensinam, no entanto, que o pecado distorceu a nossa imagem de mundo, permitindo que o homem use suas capacidades racionais contra Deus, para identificar idolatricamente a divindade (o Arché) com a criatura. Como diz Paulo, os homens, "pensando-se sábios, tornaram-se loucos". A "loucura" do homem natural, acusada nas cartas de Paulo, é a irracionalidade travestidade de racionalidade. E a "loucura" do evangelho não é a negação da racionalidade, como os Decadentes pensam, mas a aparência de irracionalidade, de um ponto de vista incrédulo. Os teólogos chamam isso de "efeitos noéticos do pecado". Esses efeitos é que tornam necessária uma "crítica cristã da racionalidade".

Os Decadentes acham isso impossível, uma vez que a crítica só pode começar com a razão. Entretanto, isto é, simplesmente falso. Não há condições mais para se fazer filosofia transcendental à revelia do que as meta-críticas e a crítica hermenêutica apontaram - que não há uma razão que opere a partir de condições não apenas transcendentais, mas também históricas e existenciais. Há um Self que não é abstrato, mas histórico. Todo pensamento teórico, inclusive o mais rigoroso exame auto-crítico de suas estruturas, permanece devedor de condições supra-racionais.

Portanto, a crítica jamais, em nenhum lugar, e em nenhuma época, em nenhum indivíduo, começou com a razão. Porque a "razão", como realidade independente, não existe. A crítica é uma ação racional do ser total, que lhe antecede. A crítica começa com o coração, e se realiza como um ato espiritual integrado. A crítica racional precisa aceitar o que está além do self e que o constitui (na verdade, ela faz isso automaticamente, pois isso pertence à sua estrutura) e, para o Cristão, é impossível falar sobre isto sem falar de Deus, e de sua manifestação em Cristo - ou de um ídolo. Na perspectiva reformacional, a crítica da razão, corretamente empreendida, conduzirá ao reconhecimento de que todo pensamento teórico parte de pressuposições religiosas, isto é, de crenças religiosas associadas a uma experiência de fé.

Uma crítica cristã da racionalidade é uma afirmação da dependência do pensamento teórico em relação aos compromissos religiosos do indivíduo; religiosos num sentido existencial, de atribuição de ultimidade; de preocupação incondicional, para usar a linguagem de Tillich. E a fé tem um papel fundamental, aqui, desde que, por fé, sem obras, somos conduzidos a uma compreensão da verdade sobre Deus, sobre o mundo, e sobre nós mesmos. E a luz da verdade é capaz de dissipar a escuridão dos efeitos noéticos do pecado, ao motivar o homem a pensar a partir da verdade, e não contra ela.

(Quanto à esperança de que haverá, enfim, uma coerência de fé e racionalidade - bem, não se trata de "futuro", literalmente... É uma forma de dizer que a coerência é assumida por princípio, pela confiança na coerência de Criação e redenção. É um posicionamento metodológico.)

Caso, enfim, algum decadente ou alguém mais queira saber melhor o que é essa "crítica cristã da racionalidade", eu sugiro que leia primeiro, alguma coisa sobre o assunto - do contrário nos perderemos em uma conversa "de surdos". Que leia Herman Dooyeweerd, Alvin Plantinga, ou Wolterstorff. Ou Roy Clouser, no mínimo, para saber do que os caipers estão falando.
Algo em português

O "Pecado Original" dos Decadentes?

Os Decadentes relacionam o pecado com a Criação, nitidamente. Não apenas não tem qualquer noção de ordem criacional, e rejeitam a coerência entre a Graça e a Lei, a lógica, a moral, o discernimento, etc, mas afirmam, indiretamente, a pecaminosidade do mundo criado. Assim dizem, num momento, que a única coisa que torna a Graça necessária é o pecado e, em outro, que somente a Graça torna o mundo possível, como criação. Mesmo que essas declarações sejam escorregões teológicos, sua atitude geral, enfim, ao estabelecer um paradoxo ontológico entre "Graça" e "natureza", "Graça" e "Lei", equivale, finalmente, à negação da bondade do mundo, ao dualismo gnóstico.

A confusão de criação e queda aparece ainda nas idéias dos Decadentes sobre o "pecado original". Seria o "conhecimento do bem e do mal", segundo eles, e a salvação o "esquecimento" do bem e do mal. Ora, o pecado não é o conhecimento do bem e do mal - que bobagem ridícula - mas a tentativa de obter o conhecimento do bem e do mal autonomamente.

Assim as Escrituras estão cheias de recomendações sobre a necessidade de distinguir o puro e o impuro, não apenas no sentido ritual, mas no sentido moral. Os Salmos estão cheios disso; os provérbios e os livros proféticos. E Hebreus, então, que descreve os espiritualmente adultos como pessoas capazes de "discernir não somente o bem, mas também o mal"? E Paulo, que ordena a separação do "fermento velho", que era o comportamento imoral? E apocalipse, que ordena a santificação do santo e a imundície do imundo?

O discernimento cristão é um imperativo bíblico. "Examinai todas as coisas, retende o que é bom" - como fazê-lo, se não temos categorias? Paulo diz em 1Coríntios que o homem espiritual "julga todas as coisas", e que nós temos "a mente de cristo". Nem se trata, aqui, de julgar o destino final (salvação ou perdição de alguém), mas de julgar idéias, comportamentos, posicionamentos e atitudes. Isto não é somente legítimo; é obrigação. É o discernimento. "Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas dessa vida" - foi o que disse Paulo.

Mas os Decadentes não sabem nem mesmo quem foi Hitler, ou o que é Babel, pois o evangelho destruiu todas as suas certezas, e invalidou todas as suas categorias. Não podem, portanto, julgar. Enquanto isso, Paulo grita de sua tumba: "Com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro?" Os Decadentes querem eliminar o discernimento cristão, para que todo o tipo de esquisitice teológica e moral tenha seu lugar, em nome da Graça. Portanto, julgar e discernir tornou-se "fundamentalismo". Uma mediocridade deprimente, ssurrealista. Que mico é este, pelo amor de Deus?

E agora, enfim, os Decadentes conseguiram transformar o conceito Bíblico de pecado em uma justificativa para a anulação do discernimento cristão. Pecado é discernir o pecado. Heresia é discernir a Heresia. Maldade é discernir a maldade. Santidade é nada saber, nada distinguir; amor é "juntar a fé e a vergonha, chamando a todos de irmãos", como chorou João Alexandre.

Pois eu digo: aqui está o pecado original dos Decadentes: eles dissolveram a Ordem cósmica, calcaram aos pés a Lei Eterna, baratearam a Graça divina, e destruíram o discernimento cristão com uma única finalidade: juntar a fé e a vergonha.

Saída? Nenhuma retratação teórica será suficiente. Pelos ossos de meu bisavô, o que vocês seguem e pregam é um falso evangelho. Arrependam-se. A Graça não salva ninguém sem conversão - isso é ilusão pós-modernóide.
Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz escuridade; põem o amargo por doce e o doce por amargo!
Isaías 5.20

quinta-feira, novembro 09, 2006

Ecologia Militante no Pará

Meu irmão Elildo Carvalho Jr - ecologista, mestre pelo INPA e técnico do IBAMA em Santarém se meteu numa enrascada das boas...

Ele apoiou um trabalho de identificação de madeireiras ilegais na região pelo Greenpeace (acho que fez um vôo com eles), que apoia parte da população local interessada na constituição de uma reserva extrativista no local. E denunciou suas suspeitas de mutreta entre o IBAMA, as madeireiras e a política local - o prefeito, do PSDB, apóia as madeireiras. E a polícia local, aparentemente, fez algumas demonstrações de apoio aos madeireiros.

Ocorre que o pessoal da comunidade se revoltou por conta própria e está bloqueando o rio - chegaram mesmo a queimar balsas das madeireiras. Uma confusão.

Acho que este negócio é preocupante - precisamos orar pelo Jr. Ao mesmo tempo, não deixa de ser um exemplo de alguém que não quer somente ir levando a sua "vidinha" enquanto o mundo pega fogo. É um crente que está cansado do estilo gospel - essa forma pietística, irracionalista e alienada de viver o cristianismo no brasil - e que não suporta viver acomodado no meio da injustiça. A gente podia ter mais uns 200 crentes assim...

Mandem emails de apoio (elildojr@gmail.com), e vamos acompanhando as coisas daqui com oração. Segue abaixo uma reportagem sobre a questão no www.amazonia.org.br
Alguma coisa pode ser vista também no site do Greenpeace: